segunda-feira, 12 de junho de 2017

O que é o amor?


Definir o amor não é tarefa fácil. Também não é tarefa necessária. O amor é uma experiência única, não só no sentido de que é algo singular no mundo, mas também no de que ocorre de maneira diferente para cada pessoa. Cada pessoa sente o amor à sua própria maneira, mas há muito que é universal. Amar é conectar-se com o outro. É fundir-se com o outro. É ser "eu", "tu" e "nós", tudo ao mesmo tempo. É se jogar no abismo do outro de maneira totalmente altruísta, sabendo que não está negligenciado a si: o outro também se perdeu em nossas profundezas. Amar é guerra. É derrotar nosso rival pelo seu próprio bem. É se permitir ser derrotado para evoluir. É enfrentar o mundo com as costas cobertas. Amar é renascer. É evoluir constantemente. É deixar de ser e voltar a ser. É ver nascer no outro um novo você, e fazer o outro em ti renascer . É olhar no espelho e saber se ver. Amar é cumplicidade, não simetria. É ter a essência igual e o superficial diametralmente oposto. É escrever sobre o amor em um blog dedicando o texto ao seu amor. O amor somos nós, mas o amor também é uma entidade por si só. Não procure o amor. O amor te acha.

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Poeminhas, poeminhas...

Para hoje teremos poemas. Poemas que eu escrevi há alguns dias ou há alguns meses... alguns há muitos meses. O último é o mais recente; escrevi brincando com o conceito de escrita automática. Divertido.


Robô orgânico

No ventre de minha mãe,
fui sempre muito feliz.
Estava ainda longe de receber
minha primeira diretriz

Nasci e cresci com vigor.
Tudo pra mim era novo;
um verdadeiro primor.

Depois de passado o tempo,
acabou que esqueci
De como era tudo, antes
do meu outro eu assumir

Recebi minha diretriz primeira,
e a ela sempre obedeci.
Tanto fiz que foi ela
a responsável por fazer eu sumir.

Acordei, me sentei;
Li, escrevi.
Encontrei os meus trilhos
e por eles segui.

Acorde, me sentei;
li, escrevi.
Encontrei os meus trilhos
e por eles segui.

Acordei me sentei
li escrevi
encontrei meus trilhos
e por eles segui

Acordei me sentei
Lhe escrevi



encontrei-me em meus trilhos




e nunca mais me vi.





Sem título #1

Passos, pingos, paciência
Espera, externa, interna
Não cai
Não sai
Não vai
Espera.
Cessa.
Olhar, desencontro, passagem
Pele, corpo, sensação
Prisão
Querer sair

Na trêmula inquietação que me prende
No oceano profundo que vazar pretende
No momento mais quieto e pacífico da rotação terrestre

Para então, enfim, lembrar-se
Que viver não é pensar, nem calar
Que a vida se vive somente no presente

A prisão etérea: o tempo
Não o que se vive,
mas o que se visita.

/ /
 /  /   /
/  /  /
/ /

Começa de novo
O forte rajar da natureza
Cessando, gradualmente,
Coda mais bela da orquestra universal

Aqui, aguardo-te.



Sem título #2

Olhai, olhai
o Rei dos animais:
sentado esplendidamente em seu trono azul.
Cercado pela corte deplorável da vida:
Fome,
Fedor,
Miséria.




Sem título #3 (escrita automática)

Parte de mim a luz
Corta de nós, atroz
A subida dos rios
Nos fios de tudo
Habita o senhor das armas
Que suscita e grita
Aos loucos e desterrados
O fado da vida
e o pesar dos mortos

sexta-feira, 2 de junho de 2017

E a vida continua...


Aos vinte - quase vinte e um - anos, lembro-me com alguma clareza dos pensamentos que tinha quando era criança. É uma reminiscência que vez ou outra me faz refletir sobre os caminhos que a vida toma. Querendo ou não, a vida é análoga a uma série de televisão: começa com a certeza de ser finita, e com a possibilidade de ser cancelada abruptamente. Ao longo das temporadas, correm as histórias do protagonista e as histórias paralelas dos personagens secundários.

Assim é a vida. Somos os protagonistas das nossas, e nos rodeamos de personagens secundários, cada um protagonista de sua própria estória - ou história, com h, no nosso caso. Como nas séries, as histórias mantém um fio delicado de coesão, que permite à trama explorar diversos temas sem digredir muito fortemente da proposta principal. E por falar em digressões, cortemos a minha e voltemos para as minhas memórias de infância.

A memória que a mim interessa diz respeito à minha vontade mor enquanto criança. Na sala da minha casa, havia uma estante alta, onde ficava a televisão, alguns CDs de música, meus antigos videogames, e mais outros ornamentos que minha memória não consegue resgatar. Algumas vezes, o controle da televisão ficava guardado no topo da estante, e eu, que não chegava nem na altura dos pés da televisão, ficava me roendo de raiva porque não conseguia alcançá-lo. Dizia a mim mesmo que queria logo crescer; queria ser adulto pra ter altura suficiente pra pegar o controle sem precisar de ninguém. Essa era minha maior ambição.

Bem, o tempo passou, e eu fui crescendo. Atingi altura suficiente para pegar o controle com algum esforço, mas sem muitos problemas. À essa altura, a vida, a minha série, já havia mudado. Na primeira temporada, eu cursava o ensino fundamental I, voltava pra casa e ficava jogando videogame até não poder mais. Meu objetivo na vida era alcançar o controle remoto. Agora, na segunda temporada, alcançar o controle já não era mais problema. Tornou-se parte banal do cotidiano.  O espaço que eu frequentava também não era mais o mesmo. Entrei no ensino médio, mudei de escola, mudaram os personagens secundários do meu cotidiano.

É difícil perceber que se está crescendo à medida em que se cresce. A mudança ocorre no cerne da história. O gênero muda. Não era mais uma série infantil; passou a ser uma série para o público adolescente. No meu caso, a pegada era um pouco mais filosófica. Criei alguma consciência sobre as coisas da vida. Sofria também... com as coisas que nunca disse a ninguém, e não ousava dizer porque as reflexões eram tantas e tão perturbadoras que não me deixavam falar.

Percebi que a vida era cheia de armadilhas. Jurei pra mim mesmo que jamais cairia nelas. Eu já as conhecia, como poderia possivelmente ser pego? Pois bem. Caí. A vida é a série mais interessante de todas. É traiçoeira, mas fascinante. Como o Labirinto de Dédalo, a vida engana. Pensa que achou o caminho? Parabéns, você está de volta ao ponto inicial. Os caminhos mudam, e você envelhece. E a cada novo percurso pelo labirinto, percebem-se as paredes de maneiras diferentes, até que as paredes se tornam velhas e entediantes.

Caí nas armadilhas da vida, e por um momento pensei que estava fadado a um sofrimento eterno e implacável. Mas eis que entra em jogo o conhecimento sobre a vida: esse pensamento é só mais uma armadilha. O sofrimento não é implacável, não é infinito. Assim como as paredes do labirinto, ele vai mudar. Pode até sumir, ou quem sabe assumir uma nova forma. E eu, nesse momento, tomarei novo fôlego, e tentarei achar a saída mais uma vez.

Aos vinte - quase vinte e um - anos, vejo o quando já mudei, quantos erros cometi e quantos ainda cometo. Aos vinte e um anos, irei percorrer o labirinto novamente. Talvez tropece de novo, talvez deite no chão, exausto, e comece a chorar. Mas sei que a cada segundo aproximo-me mais e mais da saída, e sei, com certeza, que encontrarei o que procuro: um espelho... e um lugar para chamar de meu.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Quem sou eu?

     Afinal de contas, quem sou eu? Vez ou outra, no passado, já ponderei acerca dessa questão. Que características seriam tão inerentes a mim, que pudesse enfim colocar-me em palavras? Que ideais teria eu tão firmemente fincados em minha alma, que seriam suficientes para descriminar o meu ser? Mas eis a grande ironia: sendo, eu sou. E por ser, já me conheço como sou.
      O verbo "ser" está no infinitivo. A palavra "sou" pertence ao passado, e cada vez que a entoo, já não sou mais quem era antes. O meu ser não é estático, imutável, nem vinculado à tudo aquilo que me cerca; tudo aquilo que pratico ou vivo. Se sou estudante, não o sou, é apenas uma posição efêmera na qual me encontro, mas que nada diz a respeito de mim. Tudo é apenas parte do caminho que trilho, nunca se atrelando ao que verdadeiramente sou.
     O grande filósofo Francis Bacon dizia que para chegarmos à verdade, devemos eliminar os ídolos que habitam nossas mentes. São quatro: os ídolos da tribo (construções sociais); ídolos da caverna (nossas próprias opiniões, que tão firmemente estão arraigadas no cerne do nosso ser); ídolos do fórum (opiniões formadas em nós baseadas na interação com os outros); e os ídolos do teatro (opiniões impostas a nós por tudo aquilo que julgamos como autoridade).
     Seguindo a linha de raciocínio desse pensador, ratifico o que antes afirmei: o meu ser não é vinculado a absolutamente nada. Sei que hoje tenho dezenove, quase vinte anos; sei quem são meus pais, sei onde moro, sei do que gosto, do que não gosto; o que quero e o que não quero para mim. Mas nada disso sou eu, propriamente.
     Sigo na luta para me livrar de meus ídolos. Por vezes, pensei estar mentindo para mim mesmo, quando estava na verdade reeducando minha mente. Os ídolos são traiçoeiros. Parasitam sua mente e se camuflam no seu ser. Cabe a cada um de nós encontrá-los e destruí-los. A batalha é dolorosa, mas a vitória é iminente.

domingo, 25 de janeiro de 2015

"Somos importantes"


    A vida humana não possui a mínima importância, de modo geral. Nossa capacidade de sentir e raciocinar permite que a vida daqueles que são próximos de nós tenha importância; mas apenas para nós. Sendo os únicos seres do planeta Terra capazes de desenvolver raciocínios lógicos, os humanos são levados a crer que são superiores às demais forma de vida, e que têm alguma relevância para o universo.

    O ser humano sobrevive se alimentando de formas de vida que julga inferior, ou de pouca importância. A ironia! Comemos de tudo. Mariscos, carne bovina, carne suína, e tudo mais. A vida humana vale mais que a vida de tais animais? Não. Mas, por nos julgarmos superiores, não faz diferença quando destruímos essas vidas e colocamos seus resquícios em nossos pratos. Não se engane! Meu discurso não é de indignação. Aceito muito bem minha natureza. Não me julgo superior às demais formas de vida, mas sou egoísta o suficiente para querer e aceitar sobreviver às custas de outras vidas. Os bois e as vacas, em suas vidas inteiras, não podem se divertir tanto quanto eu, certo?

    Um dia, a nossa espécie entrará em extinção. Poderá acontecer em 10 minutos, 10 dias, 10 anos, 10 séculos ou daqui a 10 quintilhões de milênios. A causa? Não sei. Pode ser uma doença incurável, uma chuva de meteoros, outras formas de vida (hostis) vindas de outras galáxias, ou mesmo a destruição interna do planeta em que vivemos. O que importa é que não importamos, e nossa vida pode acabar a qualquer momento sem nenhuma consequência relevante.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Cansado

Estou cansado.
Não estou velho, mas estou cansado.
Não trabalho, mas estou cansado.
Não tenho pressa, mas estou cansado.
Cansado, cansado, cansado.
Um bagaço.
Um bagaço cansado.
Um bagaço cansado do cansaço.
Procuro descanso.
Um descanso incansável.
Um descanso tão incansável que cansa.
Cansa o meu descanso.
Cansa o bagaço.
Bagaço que descansa.
Descanso que cansa
O cansaço do bagaço.